EUA E A CRIAÇÃO DO TALIBÃ. UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA RECENTE DO AFEGANISTÃO

1) A CRIAÇÃO E O FINANCIAMENTO DO TALIBÃ E DA AL-QAEDA PELOS EUA COMO ARMA DE GUERRA CONTRA A URSS

O ex-presidente dos EUA, Ronald Reagan reunido com algumas lideranças do grupo religioso islâmico Mujahideen em 1979 (grupo precursor de onde futuramente saiu a formação do Talibã), no auge da Guerra do Afeganistão contra a República Socialista Soviética no país. Guerra que durou de 1979 até 1989 quando os soviéticos se retiraram do Afeganistão.

O Taliban apareceu no Afeganistão em 1994, no auge da guerra civil. No entanto, tem suas raízes em grupos islâmicos que lutaram contra as forças soviéticas uma década antes. Na década de 1980, a CIA e os serviços de inteligência do Paquistão não pouparam despesas ou esforços para apoiar todos os que desejavam lutar contra a URSS. Eles forneceram dinheiro, armas, e os paquistaneses, além disso, implantaram vários campos de treinamento nos quais os mujahideen eram treinados em táticas de combate. Os americanos esperavam tirar vantagem do fator religioso fornecendo livros didáticos às madrassas (escolas religiosas islâmicas) afegãs que incitaram os sentimentos jihadistas em relação aos “infiéis”. Quase todo o topo do Taliban nos anos 90 eram mujahideen comuns em vários grupos islâmicos que lutaram contra as tropas soviéticas. (ANTONYUK, 2021)

Essa história sobre a criação do Talibã, da Al-Qaeda, entre diversos outros grupos terroristas (na região do Oriente Médio e Ásia central) pelos EUA, é algo ainda muito desconhecido no Brasil, assim como no mundo ocidental, pois os canais de mídia, quase todos financiados com dólares estadunidenses, sendo veículos de desinformação altamente anticomunistas, sempre encobriram esse fato, para que houvesse a proteção dos governos corruptos e criminosos dos EUA, além de proteger a própria imagem dos EUA no mundo ocidental. 

Em Agosto de 1979, a embaixada dos EUA em Cabul referiu que “a queda do governo (socialista) do PDPA serviria aos interesses mais amplos dos Estados Unidos …, apesar dos eventuais contratempos que isso pudesse significar para futuras reformas sociais e econômicas no Afeganistão”. (…) Não é frequente que tão cínica intenção seja expressa com tanta clareza. Os EUA estavam a dizer que um genuinamente progressista governo afegão e os direitos das mulheres afegãs poderiam ir para o diabo. (PILGER, 2021)

Em 3 de Julho de 1979, sem conhecimento do povo norte-americano e do Congresso, Jimmy Carter (presidente dos EUA) autorizou um programa de “ação secreta” de US$500 milhões para derrubar o primeiro governo secular progressista do Afeganistão. Foi-lhe dado pela CIA o nome de Operação Cyclone. Os US$500 milhões compraram, subornaram e armaram um grupo de fanáticos tribais e religiosos conhecidos como mujahideen. Na sua história semioficial, o repórter do Washington Post Bob Woodward escreveu que só em subornos a CIA gastou US$70 milhões. (…)  Recrutado em todo o mundo muçulmano, o exército secreto dos EUA foi treinado em campos no Paquistão geridos pelos serviços secretos do Paquistão, a CIA e o MI6 da Grã-Bretanha. (PILGER, 2021)

O diretor da Agência de Segurança Nacional de Ronald Reagan, General William Odom observou recentemente, “por qualquer medida, os EUA há muito usam o terrorismo. Em 1978-79, o Senado estava tentando aprovar uma lei contra o terrorismo internacional – em todas as versões que produziram, os advogados disseram que os EUA estariam em violação”.  (CHENGU, 2014)

Convenientemente a maior parte das mídias (do mundo ocidental) prefere esquecer o fato de que a Al Qaeda (…) foi uma criação da CIA na década de 1980, a qual recrutou e treinou radicais muçulmanos como parte de uma estratégia desenvolvida pelo chefe da CIA de Ronald Reagan, Bill Casey, e outros a fim de criar “um novo Vietnã” para a União Soviética a qual levaria a uma humilhante derrota do Exército Vermelho, e ao colapso final da União Soviética. (ENGDAHL, 2009) Este é um fato que historicamente não aconteceu, pois o Exército Vermelho não foi derrotado no Afeganistão, apesar de este ser o plano dos EUA, mas foi retirado do país, sob ordens do governo soviético, então presidido pelo presidente (revisionista) Mikhail Gorbachev.

‘’Um guerreiro anti-soviético lidera seu exército ao longo do caminho para a paz.’’ Reportagem do The Independent, de 6 de dezembro de 1993, falando sobre o papel que Osama Bin Laden fez na luta contra os soviéticos, que beneficiou os interesses, a invasão, e ocupação do Afeganistão pelos EUA – FONTE: https://colonelcassad.livejournal.com/2958179.html e https://www.reddit.com/r/VintageNewspapers/comments/occn7l/antisoviet_warrior_puts_his_army_on_the_road_to/

Para que não esqueçamos, a CIA deu à luz Osama Bin Laden e amamentou sua organização durante a década de 1980. O ex-secretário de Relações Exteriores britânico, Robin Cook, disse à Câmara dos Comuns que a Al-Qaeda era inquestionavelmente um produto de agências de inteligência ocidentais. O Sr. Cook explicou que a Al-Qaeda, que literalmente significa uma abreviatura de “banco de dados” em árabe, era originalmente o banco de dados do computador de milhares de extremistas islâmicos, que foram treinados pela CIA e financiados pelos sauditas, a fim de derrotar os Russos no Afeganistão. (CHENGU, 2014)

Bin Laden trabalhava para a CIA, diz o FBI …

A ex-tradutora do FBI Sibel Edmonds no programa de rádio Mickey Malloy disse que os EUA apoiaram a “relação de confiança” com Osama bin Laden e o movimento “Talibã” até 11 de setembro de 2001 (o dia da explosão do World Trade Center nos EUA). Esses laços incluíam, por exemplo, o alistamento de Bin Laden em operações na Ásia Central e na região autônoma uigur de Xinjiang na China, habitada por uigures muçulmanos. Essas conexões tinham o mesmo significado e a mesma estrutura das operações contra as tropas soviéticas no Afeganistão durante a Guerra Fria – uma guerra contra o “inimigo” por meio de um intermediário. (…) Edmonds já descreveu um mecanismo anteriormente, no qual a Turquia (com a participação de alguns “agentes” do Paquistão, Afeganistão e Arábia Saudita) agia como intermediária no uso de soldados de Bin Laden, o Talibã e outros grupos terroristas. O objetivo era obter controle sobre a Ásia Central, seus recursos de energia e mercados de armas. Os americanos precisavam dessa operação para se defenderem de verdadeiros movimentos de resistência social na Ásia Central (Uzbequistão, Azerbaijão, Cazaquistão e Turcomenistão) e para reprimir a reação da China e da Rússia. Foram criadas estruturas baseadas na Turquia e que perseguiam a ideologia pan-turca e pan-islâmica. (…) A maioria dos cidadãos da Ásia Central é muito semelhante aos turcos em tradições religiosas, culturais e, em última análise, linguísticas. E o Talibã e a Al-Qaeda foram usados ​​para promover a ideia de um califado pan-islâmico. A operação ilegal de 10 anos foi orquestrada por um pequeno grupo de analistas dos EUA (financiado por patrocinadores do complexo militar-industrial dos EUA) e colaborando com centros de operações turcos, parceiros da Arábia Saudita e forças orientadas para os EUA no Paquistão, disse Edmonds. Decorre também das palavras de Edmonds que os Estados Unidos estão igualmente ligados à atual agitação uigur na China – (…) Eric Margolis, que afirma que os uigures tinham campos de treinamento especiais no Afeganistão, fundados por bin Laden e apoiados pela CIA para atingir o objetivo principal de perturbar a integridade do estado chinês. Lutadores uigures treinados deveriam ser usados ​​em caso de guerra com a China ou, possivelmente, para sua desestabilização. Uma confirmação indireta disso são as fotos divulgadas por Edmonds, uma das quais captura Anvar Yusuf Turani, o “presidente no exílio” do Turquestão Oriental. O “governo do conhecimento uigur” foi estabelecido no Capitólio (dos EUA) em setembro de 2004. Nas outras fotos está o ex-agente americano Graham Fuller, que ajudou a criar um “governo no exílio” – escrevendo e administrando intensamente “Xinjiang by Project” [1] para a Rand Corporation. Mehmet Eymur, ex-chefe do departamento de antiterrorismo do serviço analítico turco do MIT, Marc Grossman ex-embaixador dos EUA na Turquia e ex-chefe de Sibel Edmonds – e o Major Douglas Dickerson também estiveram envolvidos na ação, conduzida com base em Shushurluk (distrito da província de Balikesir, no noroeste da Turquia). Isso aconteceu sem o conhecimento oficial de Ancara. Depois que a estrutura foi desmontada, Mehmet Eymur recebeu asilo político nos Estados Unidos. (THE DAILYKOS, 10/08/2009)

Outras evidências existentes sobre a continuação do financiamento, e da criação de novos grupos terroristas pelos EUA através das décadas, para servirem de exércitos mercenários, podem ser encontradas em diversas fontes de pesquisa publicadas em sites, em documentos que vieram a público, assim como em livros e trabalhos acadêmicos publicados por jornalistas e analistas militares, muitos deles oriundos do próprio EUA. Como exemplos, citamos:

O Economic Times publicou um artigo do Tenente General Dipendra Singh Huda, que (…) liderou o Comando do Norte do Exército Indiano, intitulado “A Síria nos mostra que a guerra global contra o terrorismo é um mito”. (MAKSUDOV, 2019)

Ele afirma: “Quando a guerra civil estourou na Síria em 2011, muitos grupos rebeldes surgiram. A mais bem-sucedida nos primeiros anos da guerra foi a Frente al-Nusra, também conhecida como Jabhat al-Nusra, que em dezembro de 2012 foi incluída pelos Estados Unidos na lista de organizações terroristas estrangeiras. No entanto, isso não impediu o governo dos Estados Unidos de fornecer armas à al-Nusra, guiado por seu objetivo de derrubar o regime de Bashar al-Assad.’’  (MAKSUDOV, 2019)

Em um artigo publicado pela Global Research em 2 de outubro de 2016, Abu Al-Ezz, comandante de uma das Frentes al-Nusra, é citado como tendo dito: “Sim, os EUA apóiam a oposição [na Síria], mas não diretamente. Eles apóiam os países que estão nos ajudando … quando Jabhat al-Nusra foi cercado, tínhamos oficiais da Turquia, Qatar, Arábia Saudita, Israel e América … Especialistas no uso de satélites, mísseis, câmeras de reconhecimento e imagens térmicas.”  (MAKSUDOV, 2019)

Garikai Chengu, pesquisador da Universidade de Harvard (nos EUA) nos esclarece que: “O fato de os Estados Unidos terem uma longa e turbulenta história de apoio a grupos terroristas pode surpreender apenas aqueles que assistem ao noticiário e ignoram a história.” (CHENGU, 2014)

2) O QUE FOI A REVOLUÇÃO DE SAUR ACONTECIDA EM 1978?

Manifestantes durante a celebração do segundo aniversário da revolução afegã de Saur (27/04/1980). República Democrática do Afeganistão.

O dia 27 de abril marca o aniversário da vitória do golpe militar no Afeganistão (1978), mais conhecido pelos cidadãos da ex-União Soviética como a “Revolução de abril” ou “Revolução de Saur”. Como resultado do golpe organizado pelos líderes do Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA) com o apoio dos militares, o poder no país passou para as mãos do Conselho Militar Revolucionário, presidido por Nur Mohammad Taraki, um dos fundadores do Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA). (…) Alguns historiadores e especialistas políticos acreditam que uma das razões para a derrubada do então chefe do Estado afegão, o representante da casa real, Mohammad Daoud, foi seu desejo de se distanciar da URSS. Após as últimas conversas em Moscou com Leonid Brezhnev em 1977. (…) …o misterioso assassinato de um dos líderes do PDPA, Mir Akbar Khaybar, serviu de detonador político (…) para o golpe militar de 27 de abril. (…) A cerimônia do enterro de Khaybar se transformou em um protesto contra o regime governante, bem como uma demonstração da força dos partidários do PDPA. De acordo com testemunhas oculares, cerca de 15 mil “comunistas afegãos” participaram da cerimônia de luto, que marcharam por toda Cabul. As lideranças do PDPA em seus discursos no funeral falaram sobre a declaração de guerra ao atual presidente do país  (…) As ameaças dos “comunistas de luto” irritaram Daud Khan. Em 25 de abril, a rádio de Cabul transmitiu uma mensagem sobre a prisão de dois líderes do PDPA – Taraki e Karmal. Outros líderes do partido, como o Khalqist Hafizullah Amin, foram colocados em prisão domiciliar. As sanções das lideranças do país contra as lideranças do PDPA, de fato, foram o sinal para o início do levante comunista. (…) Na madrugada de 27 de abril de 1978, tanques da 4ª Brigada de Tanques sob o comando de Watanjar moveram-se das regiões orientais de Cabul para o centro da capital afegã. De acordo com o publicitário afegão Razak Mamun, no meio do dia, o primeiro projétil disparado do canhão do golpe do tanque atingiu o prédio do Ministério da Defesa do país. Com esse único tiro, a ligação entre o Ministério da Guerra e o palácio presidencial de Arga foi destruída. (…) O cerco de “Arga” durou a noite toda. Foi apenas de manhã cedo que os rebeldes “comunistas” invadiram o palácio, matando o presidente Mohammad Daoud e toda a sua família. Na noite do mesmo dia, Hafizullah Amin, via rádio Cabul, informou ao povo afegão sobre o “fim do período da família real” e “a vitória do conselho militar revolucionário”. (NESSAR, 2008) Sob a monarquia, a esperança de vida era de 35 anos; 1 em cada 3 crianças morria na infância. 90% da população era analfabeta. (PILGER, 2021) Os participantes diretos do golpe militar receberam altas patentes e cargos no governo e durante muitos anos fizeram parte do Politburo do Comitê Central do PDPA. Alguns “heróis da Revolução de Abril” ainda têm assento no parlamento afegão. (NESSAR, 2008) O objetivo do PDPA era libertar o Afeganistão do seu atraso. Na década de 1970, apenas 12% dos adultos eram alfabetizados. A expectativa de vida era de 42 anos e a mortalidade infantil a mais alta do mundo. Metade da população sofria de tuberculose e um quarto de malária. A maior parte da população vivia no campo, governado por proprietários de terras e mullahs ricos. (GOWANS, 2010) Após o golpe militar de 1978, o Afeganistão entrou em um novo período em sua história moderna. A mudança de poder em 27 de abril e as mudanças socioeconômicas e políticas que se seguiram afetaram não apenas a vida dos afegãos e do Afeganistão. Eles marcaram o início de uma nova era, tanto para a região da Ásia Central como para o mundo inteiro. (NESSAR, 2008) 

Jornalistas estrangeiros em Cabul, relataram para o The New York Times, que ficaram surpresos ao descobrir que: “quase todos os afegãos que entrevistavam diziam [estar] encantados com o golpe”. O Wall Street Journal relatou que: “150.000 pessoas … marcharam em homenagem à nova bandeira … os participantes pareciam genuinamente entusiasmados.” (PILGER, 2021)

O Washington Post relatou que “a lealdade afegã ao governo dificilmente pode ser questionada”. Secular, modernista e, em grau considerável, socialista, o governo declarou um programa de reformas visionárias que incluía direitos iguais para mulheres e minorias. Os presos políticos foram libertados e os arquivos da polícia queimados publicamente. (PILGER, 2021)

A mudança de poder no país foi percebida positivamente pela maioria da população. Um ano após a vitória da Revolução  de abril, em 1979, o presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter assinou uma diretriz de apoio ao movimento Mujahideen: começaram os trabalhos em larga escala na criação e treinamento de formações anti-Cabul nos países vizinhos, no Irã e no Paquistão.  (SANDINIST, 2014) A “era Saur” terminou com o colapso da URSS e o fim da Guerra Fria. (…) Nos últimos 30 anos, os afegãos viram e sentiram os “encantos” de vários regimes políticos – desde os comunistas do PDPA aos fundamentalistas, aqueles que agora são chamados de “extremistas”. Talvez ninguém possa dar uma avaliação inequívoca desta “época de problemas” na história recente do Afeganistão. No entanto, muitos afegãos que sobreviveram nos últimos 30 anos parecem concordar em uma coisa – o desejo de voltar àqueles anos em que a estabilidade e a paz eram mantidas no país (os anos do governo socialista). Aquilo sem o qual um novo renascimento do Afeganistão ainda é impossível hoje. (NESSAR, 2008)

Desfile do 1º de maio (dia do trabalhador) de 1978 no Afeganistão. O novo presidente do Afeganistão, que chegou ao poder com um golpe militar em 27 de abri de 1978, e o líder do “Partido Democrático do Povo” socialista, administração de Nur Muhammed Taraki, foram reconhecidos pela Índia e por Cuba após serem reconhecidos pela URSS. O nome do país foi alterado para “República Democrática do Afeganistão” (RDA). FONTE: https://twitter.com/gunlukarsiv/status/1123634938392215560

O professor de História contemporânea da UFRGS, Paulo Fagundes Vizentini em seu livro Oriente Médio e Afeganistão – um século de conflitos (2002), nos explica que: 

O Afeganistão, feudal e tribal, sempre teve excelentes relações com a URSS e foi o primeiro Estado a reconhecê-la, em 1919, mantendo acordos de cooperação econômica e militar desde 1924. Em 1973, em mais um dos golpes de Estado no país – formalmente contra a corrupção generalizada – , o príncipe Daud depunha seu primo do trono e proclamava a República, apoiando-se em uma ampla frente, da qual fazia parte o grupo marxista Parcham. É indispensável lembrar que a ‘’vida política’’ só existia em Cabul e em duas ou três cidades; era movida por uma minúscula classe média, da qual muitos oficiais, técnicos e funcionários haviam estudado na União Soviética. Desses segmentos, além do meio estudantil e da reduzida classe operária, eram oriundos os militares do Partido Democrático do Povo Afegão (PDPA, fundado em 1965), que se cindira no grupo Parcham – favorável a uma evolução política gradual com a também minúscula burguesia local  –  e no grupo Khalq, que propunha uma revolução fundada na aliança operário-camponesa. Contudo, a esmagadora maioria do povo do ‘’teto do mundo’’ (das imensas montanhas), dividida em inúmeras etnias, levava uma vida pastoril nômade no campo ou agrária nas pequenas aldeias.

O governo Daud, face à crescente desagregação econômica – quase 10% da população precisava trabalhar no exterior – e à progressiva influência dos comunistas no governo, começou a aceitar a ajuda econômica do Xá do Irã, que desejava criar sua própria área de influência. Desde 1974, Daud permitiu a atuação da Savak (polícia política iraniana), dentro do governo afegão, para eliminar a esquerda do aparelho estatal. A situação agravou-se quando Cabul resolveu reorientar sua diplomacia, aproximando-se também de China, EUA e Paquistão. Nesse contexto, o Parcham e o Khalq reunificaram-se, enquanto as manifestações levaram Daud a efetuar prisões em massa e a assassinar líderes comunistas. Assim, em 1978, o PDPA, com o apoio de outros grupos políticos, reagiu apressadamente, desfechando um golpe de Estado, que denominou de ‘’Revolução de Abril’’.

O novo governo era liderado por Taraki, do grupo Khalq, que iniciou programas de alfabetização, reforma agrária, emancipação dos jovens e das mulheres, e nacionalização de alguns setores da economia. Não obstante, a luta interna prosseguia, e Hafizullah Amin – também do Khalq – isolou progressivamente Taraki e o grupo Parcham. Amin então acelerou perigosamente a ‘’revolução pelo alto’’, ao que se somaram os excessos do regime, desencadeando uma autêntica revolta rural contra as reformas, desde maio de 1979. A família patriarcal recusava-se a abrir mão do controle sobre as mulheres e os jovens, e o clero reagia contra a reforma agrária. Logo, a revolta tribal passava a receber apoio externo via Paquistão, escapando ao controle do governo.

Os soviéticos, já preocupados com os primeiros ventos da Nova Guerra Fria, resolveram então agir. Taraki foi a Moscou, no início de dezembro, e assinou, com Brejnev, um Tratado de Amizade e Cooperação, que na verdade, constituía um apoio para a derrubada do odiado Amin, que percebeu a manobra e assassinou Taraki logo após seu retorno. Obviamente, os soviéticos não poderiam cortar a ajuda ao Afeganistão, mas, como ironizou André Fontaine, haviam sido ‘’desafiados por um mosquito de terceira categoria, e isso é algo que não se perdoa’’. Moscou não poderia recuar do país, pois o conflito adquirira nova dimensão com o triunfo da Revolução Iraniana e o grande fluxo de armas e dinheiro para a guerrilha conservadora afegã, oriundo de EUA, China, Paquistão, Egito e Arábia Saudita. Assim, a URSS resolveu apoiar um golpe para derrubar Amin, a ser complementado com a intervenção militar maciça para apoiar o novo governo, o que veio a ocorrer em 27 de dezembro de 1979.

Esse novo governo era liderado por Brabak Karmal, do Parcham, que promoveu uma abertura política, moderou o ritmo das reformas e buscou uma aproximação com os líderes religiosos e chefes tribais, enquanto os soviéticos tentavam reerguer o Estado e o exército afegãos, as tropas procuravam controlar os pontos vitais do país. Era tarde, porém: as bases guerrilheiras encontravam-se instaladas no Paquistão, e era impossível controlar a infiltração pelas altas montanhas. (VIZENTINI, 2002)

3) A URSS REVISIONISTA ABANDONA O GOVERNO DO AFEGANISTÃO A PRÓPRIA SORTE, E A RÚSSIA CAPITALISTA AJUDA OS EUA A DERRUBAR O GOVERNO SOCIALISTA

Se a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão foi uma decisão do secretário-geral pró-Ocidente do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Mikhail Gorbachev, então a recusa em ajudar nossos amigos guerreiros do sul (governo socialista afegão) tornou-se a decisão do presidente pró-americano da Rússia, Boris Yeltsin. Yeltsin e sua comitiva, seguindo Gorbachev, estavam com pressa para se tornarem bons para seus “amigos” norte-americanos.  (SHIRSHOV, 2020)

Mohammad Najibullah, último líder pró-soviético do Afeganistão. No link abaixo, tem diversas fotografias que mostram o corpo do ex-presidente torturado e enforcado pelo Talibã. FONTE: https://eva.ru/forum/topic/message/95515569.htm 

Após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, o presidente da República Democrática do Afeganistão, Mohammad Najibullah, manteve o poder no país por mais três anos. O novo governo da Rússia (na época Boris Yeltsin) traiu essencialmente o regime amigável do Afeganistão. Em 1º de janeiro de 1992, a Rússia parou de fornecer todas as armas e munições às forças governamentais. (…) O país começou a sentir uma escassez aguda de combustível e alimentos. Destacamentos de mujahideen rapidamente começaram a tomar uma província após a outra, ficando cada vez mais perto de Cabul. Os Mujahideen tomaram Cabul no final de abril de 1992. (SHIRSHOV, 2020)

O general russo Lyakhovsky em seu livro “A Tragédia e o valor dos Afegãos” dá um ponto interessante: “Os últimos sete conselheiros militares russos deixaram o Afeganistão em 13 de abril (1992). Como me disse o Major General V.V. Lagoshin, na noite anterior, o presidente Najibullah o convidou para ir em seu lugar e disse que os conselheiros militares precisavam urgentemente deixar o Afeganistão, pois em um futuro muito próximo o poder passaria para a oposição, e ele mesmo teria apenas alguns dias para continuar na presidência. Ao mesmo tempo, acrescentou que, embora os soviéticos (nesse momento a URSS não mais existia) sejam traidores, ele considera seu dever mandar os conselheiros militares para casa sãos e salvos. De fato, quando a administração do aeródromo de Cabul começou a apresentar vários obstáculos em relação à recepção e a partida do avião soviético (russo), Najibullah pessoalmente foi ao aeródromo e ajudou no envio dos conselheiros russos para a cidade de Tashkent.’’ (SHIRSHOV, 2020)

Najibullah teve a oportunidade de voar para Tashkent, onde Islam Karimov estava pronto para fornecer asilo a ele. O Uzbequistão se beneficiou desse líder, em quem muitos acreditaram no Afeganistão e que poderia organizar o norte do Afeganistão, onde vivem principalmente tribos uzbeques, para lutar contra o sul do Afeganistão, onde vivem principalmente pashtuns. Mas ele se recusou a deixar a capital e foi morto em 27 de setembro de 1996 em Cabul. Antes de sua morte, ele foi torturado, baleado e enforcado na praça central. (SHIRSHOV, 2020)

De 1992 a 1996, Mohammad Najibullah viveu exilado dentro do prédio da missão da ONU em Cabul, mas o Talibã, que já havia sido criado pelos EUA, não deu a mínima para a imunidade diplomática da missão da ONU. Eles vieram atrás de Najibullah, como convém a um assassino, à noite. Apenas seu irmão, Ahmadzai, permaneceu com ele. (…) Mohammad e Ahmadzai foram amarrados, arrastados para fora do prédio da missão e entusiasticamente torturados por várias horas. O ex-presidente do Afeganistão foi conduzido pela cidade em um carro, amarrado pelas pernas ao para-choque, como um troféu de caça. Em seguida, o Talibã enforcou os corpos desfigurados dos irmãos em uma das praças de Cabul, e por vários dias eles foram um monumento à crueldade dos novos senhores do Afeganistão. (EVA.RU, 26/08/2017)

Em uma de suas entrevistas (…) para o jornal norte-americano The New York Times, Mohammad Najibullah disse: “Se o fundamentalismo prevalecer no Afeganistão, a guerra continuará por muitos anos e o país se transformará em um centro mundial de contrabando de drogas e terrorismo”. (SHIRSHOV, 2020)

Essa previsão, infelizmente, se concretizou completamente. E o curto período do seu governo é agora lembrado pelos afegãos quase como uma “era de ouro” em sua memória. Em 2008, uma estação de rádio de Cabul conduziu uma pesquisa entre os residentes da província de Cabul. Ao responder à pergunta: “Qual dos regimes políticos do passado e do presente você considera mais adequado aos seus interesses?” 93,2% das pessoas escolheram o regime “comunista” do presidente Mohammad Najibullah. (SHIRSHOV, 2020)

“Najibullah foi o melhor governante do Afeganistão”, disse Ghulam Mohammad Jalal, chefe do Centro de Assistência para o Fortalecimento da Unidade e do Desenvolvimento das Diásporas dos Povos do Afeganistão. – Nós o lembramos com muito carinho, realizamos e continuaremos a realizar eventos em sua memória. Afinal, ele poderia se tornar o salvador do país se permanecesse vivo. Tudo poderia ter sido completamente diferente … “ (MIRONOV, 2016)

4) AS MULHERES E AS CONQUISTAS DOS SEUS DIREITOS, DURANTE O PERÍODO SOCIALISTA NO AFEGANISTÃO

4.1) OS DIREITOS DAS MULHERES ANTES DO PERÍODO SOCIALISTA

A posição das mulheres no Afeganistão permaneceu precária ao longo da história. O país era governado por ordens religiosas que limitavam os direitos das mulheres, por exemplo, proibindo-as de usar roupas abertas ou trabalhar em igualdade de condições com os homens. (KUZNETSOVA, 2021) As mulheres – submetidas às práticas islâmicas tradicionais de casamento forçado, preço da noiva, casamento infantil, reclusão feminina, subordinação aos homens e o véu – viviam existências particularmente bárbaras. (SZYMANSKI, 1984)

A situação começou a melhorar desde 1919 durante o reinado de Amanullah Khan, cuja esposa, a rainha Soraya, defendia os direitos das mulheres, incluindo o acesso à escola e aos cuidados médicos. As reformas iniciadas sob esta família continuaram sob o rei Mohammed Zahir Shah. Graças às decisões cuidadosas mas sistemáticas do monarca, as mulheres do Afeganistão começaram a adquirir cada vez mais direitos, o que se refletiu na Constituição do país em 1964. A lei falava da igualdade de direitos de todos os residentes, incluindo educação, trabalho e eleições. Embora ainda estivesse longe da igualdade de direitos, por exemplo, as mulheres não conseguiam retirar o passaporte. (KUZNETSOVA, 2021)

O direito mais importante que as mulheres afegãs receberam naquela época foi a escola, o ensino profissionalizante e o ensino superior disponível para os moradores urbanos. Em 1974, mais de 100 mil alunas estudavam no Afeganistão. Para efeito de comparação, havia cerca de 600 mil alunos. O número de meninas instruídas cresceu nos anos seguintes: de 20% em 1976 para 30-40% em 1985.  (KUZNETSOVA, 2021) 

4.2) OS DIREITOS DAS MULHERES DURANTE O PERÍODO SOCIALISTA

Como visto acima (durante o período da monarquia), as mulheres (não todas) no Afeganistão conseguiram alguns direitos básicos no período de 1919-1964, curiosamente é o mesmo período onde os(as) trabalhadores(as) do mundo todo também estavam ganhando direitos através de muitas lutas que estavam sendo travadas nos países capitalistas do ocidente. Essa melhora na qualidade de vida dos trabalhadores e das mulheres em todo o mundo, é fruto do impacto direto que a Revolução Russa de 1917 deixou como herança para o mundo, quando a primeira pátria socialista agraciou os homens e as mulheres da URSS com todos os direitos que nenhum povo que vivia sob o regime capitalista possuía até então. Até a década de 60 os direitos das mulheres do Afeganistão estavam garantidos no papel da Constituição, mas na prática, somente as mulheres que viviam nas áreas urbanas (10% a 20%), e que detinham melhores condições sócio-econômicas (oriundas de famílias mais abastadas), possuíam esses direitos. Isto é uma condição primária do capitalismo, onde apenas uma pequena parte da sociedade (a classe média alta e a burguesia) detém os direitos, enquanto a maioria permanece excluída, como aconteceu com todas as mulheres que não eram da área urbana do Afeganistão.

Em 1978, o Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA), pró-comunista, tomou o poder. Seus apoiadores procuraram tornar o Afeganistão um estado secular (laico). O PDPA pressionou pela igualdade de gênero, proibindo o casamento forçado e precoce e permitindo que as mulheres participassem da política. Por exemplo, a comunista Anahida Ratebzad foi nomeada ministra da Cultura e a escritora Masuma Esmati foi nomeada ministra da Educação. (KUZNETSOVA, 2021) Havia programas de combate ao analfabetismo feminino. Para elas, foram criados cursos educacionais especiais e profissionalizantes, oportunidade de recebimento de educação especializada superior e secundária no exterior. As mulheres afegãs poderiam conseguir um emprego nas estruturas governamentais, com salários iguais aos dos homens. Todas essas atividades contribuíram para aumentar o nível de autoconsciência das mulheres afegãs e seu envolvimento na vida pública. (SERGEYURICH, 2017)

Graças a décadas de educação relativamente acessível, em 1992, 50% dos alunos e 60% dos professores da Universidade de Cabul, 70% dos professores (do país), 50% dos funcionários públicos e 40% dos médicos eram mulheres, de acordo com um estudo de Sarfraz Khan, professor do Centro de Estudos Regionais da Universidade de Peshawar. (KUZNETSOVA, 2021)

Tão radicais foram as mudanças que permanecem vivas na memória dos que delas se beneficiaram. Saira Noorani, uma cirurgiã que fugiu do Afeganistão em 2001, lembrou: “Todas as meninas podiam frequentar o ensino secundário e a universidade. Podíamos ir aonde quiséssemos e vestir o que quiséssemos … Costumávamos ir a cafés e ao cinema para ver os últimos filmes indianos à sexta-feira … tudo começou a dar errado quando os Mujahideen começaram a ganhar … eram essas as pessoas que o Ocidente apoiava.” (PILGER, 2021)

Desfile de mulheres em Cabul, República Democrática do Afeganistão, década de 1980. FONTE: https://vk.com/wall-153091947_71475
Manifestação pelos direitos das mulheres. Cabul, Afeganistão, 1980.

4.3) O RETROCESSO E A VOLTA A IDADE MÉDIA COM A DERRUBADA DO SOCIALISMO, A IMPLANTAÇÃO DO CAPITALISMO, E A CRIAÇÃO DO TALIBÃ

No Afeganistão, temos a controversa questão das MULHERES, em que a luta é entre o dominador, respaldado pelas instituições, principalmente a religiosa, o (Homem) e a dominada (Mulher), e na qual o homem assume todas as nuances desta posição, como Machista, Escravagista, Senhor Feudal, Explorador, transformando a mulher em sua propriedade privada, impondo o trabalho forçado da mulher em casa, que sobrevive totalmente sem direitos e encurralada. 

As fotografias abaixo, mostram a grande contradição existente, porém também mostram como a Mulher tem todas as chances de ser a impulsionadora de uma revolução profunda nos países muçulmanos, bem como em todos os outros países onde sofre a opressão masculina e do Estado. Importante ressaltar que essa dominação da mulher está relacionada com a questão religiosa. A religião impõe a dominação da Mulher. É uma barra muito pesada. Mas, é somente à Mulher que compete reagir a este sistema desumano, explorador, dominador, no qual o Homem jamais sairá de sua posição dominante, cômoda, por total conveniência dele próprio, já que tem a seu dispor, mulheres como escravas domésticas e sexuais. O problema sexual, aqui, se mostra evidente. O homem, ao mesmo tempo que procura esconder suas mulheres, (com o uso da Burca) para afastá-las do convívio social, para que não sejam objeto de admiração e interesse por parte dos outros homens, sintoma de uma tremenda insegurança, em contínuo desenvolvimento conflituoso, ao mesmo tempo é invadido por sensações impetuosas e avassaladoras à visão das mulheres dos outros homens. A mulher, totalmente encoberta, impede ao Homem manifestar seus impulsos sexuais. Porém, na medida em que qualquer incidente aconteça, vai provocar sensações exorbitantes, totalmente inexistentes, por exemplo, no mundo dos indígenas brasileiros, acostumados, ambos os sexos, ao costume de não se cobrirem, de não terem vergonha de seus corpos, nem estando, portanto, dominados por um insano sentimento sexual fora da normalidade natural. 

Nessa luta desigual, compete à mulher lutar pela sua libertação de um sistema machista e explorador, uma luta dentro das religiões, dentro das políticas, e dentro de todas as instituições, seja de governo, seja de convivência. Aos homens, toda a liberdade, de andar na rua, de vestir o que bem entender, de estudar e trabalhar; enquanto que a mulher fica restrita à prisão do lar e da vestimenta, inteiramente subjugada ao trabalho doméstico, gratuito, escravo, sem compensações.

No país em que a religião justifica a violência, como o Afeganistão, o marido, os irmãos e a sogra podem bater na mulher casada. Suspeita-se que 90% das mulheres passam por violências. Assassinato de mulheres são cometidos no interior das famílias, a maioria por motivos absurdos, como de não querer casar com o homem escolhido pela família. 70 a 80% das mulheres são forçadas a se casarem com homens que elas não escolheram. Situação em que a religião é utilizada, escandalosamente, para defender interesses econômicos. (GARCIA, 2020)

A violação e outras formas de violência sexual perpetradas pela polícia são comuns, relatam a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional. “Nos dias do Talibã, se uma mulher ia ao mercado e mostrava até mesmo uma pequena parte de seu corpo descoberto, ela era açoitada sem piedade. Hoje ela é estuprada”, disse um funcionário de uma ONG internacional à Amnistia Internacional em um relatório de outubro de 2003. O senhor da guerra local de Herat, Ismail Khan, supostamente introduziu as leis do Talibã que impedem as mulheres de andar nas ruas desacompanhadas de homens. (SEDDIKI, 2004)

Um exemplo, entre muitos milhares que acontecem diariamente com as mulheres afegãs (e de outros países mulçumanos daquela região), e que comprova as profundas discrepâncias que envolvem a cultura da barbárie contra as mulheres, por causa de questões sexuais, é o da afegã Aisha. Esta jovem afegã é vítima do imperialismo dos EUA, do sistema capitalista, da invasão do Afeganistão pelos EUA, da religião do Talibã, da cultura do machismo, e da falsa democracia ocidental.

Por tentar escapar de um casamento em que era espancada e vivia com medo, temendo pela sua vida, Aisha acima, foi levada à noite de sua aldeia em Uruzgan e arrastada para a floresta onde foi condenada pelo bom comandante muçulmano talibã local e mulá a ter o nariz e as orelhas decepados. Isso foi feito com entusiasmo por seu sogro, com seu marido empunhando a faca. Ela foi dada como morta, mas conseguiu sobreviver. Isso é a barbárie institucionalizada. (VIDAUD, 2010)

Família iraniana, pai e filho usufruem de um refrescante banho de mar, enquanto a mulher, toda coberta e sufocada com uma burca, aguarda, obediente em pé, sob o sol e o calor, na areia quente.

A realidade é que (com a implantação do capitalismo e a ocupação dos EUA por 30 anos), apenas 2% das mulheres afegãs possuem carteira de identidade nacional (taskers) e, portanto, 98% não possuem documento que comprove sua cidadania e situação legal. 4 em cada 5 mulheres não sabem ler nem escrever, ou seja, 85% das mulheres afegãs são analfabetas (enquanto o mesmo indicador para os homens é de 51%). (SAVODYAN, 2015) De acordo com os últimos dados da ONU, as mulheres ainda representam apenas 27% dos 1,2 milhão de afegãos registrados para votar. É relatado que a atividade das mulheres eleitoras em cidades como Cabul, Mazar-i-Sharif e Herat é significativamente maior do que nas áreas rurais, onde as mulheres muitas vezes não sabem ler ou onde são mantidas trancadas em casa. (SEDDIKI, 2004) De acordo com a Organização Internacional para as Migrações, “o Afeganistão continua sendo um dos principais centros de tráfico de pessoas, principalmente mulheres e crianças”. Uma declaração da Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão expressa preocupação com o aumento do tráfico de meninas nas províncias de Herat, Kunduz e Takhar. Em janeiro de 2008, foram oficialmente confirmados 3 casos de venda de meninas de 4 a 9 meses. Os pais explicam essa prática pela extrema pobreza e pelo desejo de salvar as meninas da fome e do frio. (…) O UNICEF afirma que em 57% dos casamentos a noiva tinha menos de 16 anos e 80% dos casamentos são forçados ou, que são arranjados para liquidar obrigações de dívidas, bem como um meio de resolver disputas ou terminar rixas de sangue. (…) De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância, 97% das mulheres afegãs pesquisadas nunca usaram anticoncepcionais ou mesmo sabem que existem; 21% das mulheres em idade fértil estão abaixo do peso, 48% sofrem de anemia e 75% de deficiência de iodo. (…) O Afeganistão é um dos poucos países onde a expectativa de vida das mulheres é menor do que a dos homens, a média é de 44 anos, uma das mais baixas do mundo. Como resultado da guerra civil de 30 anos, centenas de milhares de homens foram mortos e, portanto, um grande número de mulheres ficaram viúvas. Em uma sociedade patriarcal afegã, a morte de um marido não só priva a mulher de recursos econômicos, mas também mina seu status social. (…) De acordo com organizações não governamentais, existem 1,5 milhão de viúvas para os 26,6 milhões de habitantes do Afeganistão. A idade média das viúvas é de 35 anos, 90% têm filhos e, na maioria dos casos, são mais de quatro. 94% das viúvas são analfabetas e não sabem ler nem escrever. Cerca de 50-70 mil viúvas vivem em Cabul, onde é mais fácil encontrar abrigo e comida do que em áreas rurais mais conservadoras. A renda média de uma viúva é de US $ 16 por mês, que ganha tecendo, costurando roupas, mas principalmente coletando esmolas e prostituindo-se. A Organização Revolucionária das Mulheres em Cabul relata que mais mulheres estão se vendendo na capital. Até 30 bordéis funcionam em Cabul, neles e na rua trabalham de 3 a 5 mil prostitutas, e quase todas elas são vítimas de guerras, desastres econômicos, violências, que muitas delas sofreram. (SAVODYAN, 2015)

5) A PROLIFERAÇÃO DO TRÁFICO DE DROGAS NO AFEGANISTÃO SOB O DOMÍNIO DOS EUA

O comércio de drogas é protegido. Há ampla evidência documentada de que a CIA desempenha um papel central no desenvolvimento dos triângulos de drogas na América Latina e na Ásia. As estruturas especialmente criadas para esses fins ainda estão sob a proteção da inteligência americana, agindo em cooperação com as forças da OTAN no Afeganistão e as forças armadas britânicas. (KANTEMIROV, 2018)

As drogas são uma espécie de arma biológica. Esta é uma guerra com milhões de vítimas da população inimiga destruída no país de uso e bilhões de dólares em receitas auferidas com as vítimas de tal agressão. O inimigo nesta guerra paga por sua própria destruição, quando o agressor obtém lucros excessivos, mais do que pagando suas próprias despesas para conduzir as hostilidades. Isso é exatamente o que Napoleão Bonaparte usou nas terras ocupadas: “A guerra deve alimentar-se.” (…) O comércio de drogas e armas é uma parte importante da estratégia de desestabilização que os Estados Unidos buscam não apenas na Ásia, mas em todo o mundo. A disseminação das drogas e da dependência química da população é considerada e utilizada como uma forma eficaz de controle das massas e sua zumbificação. (KANTEMIROV, 2018)

De acordo com um relatório oficial da ONU, a produção de ópio no Afeganistão ascendeu dramaticamente desde a queda do Taliban em 2001. Os dados da UNODC [United Nations Office on Drugs and Crime] mostram mais cultivo de papoula de ópio em cada uma das últimas quatro estações de plantio (2004-2007) do que em qualquer ano durante o domínio Taliban. Agora é utilizada mais terra para o ópio no Afeganistão do que para o cultivo de coca na América Latina. Em 2007, 93% do opiáceos no mercado mundial tinham origem no Afeganistão. Isto não é acidente. (ENGDAHL, 2009)

A safra de ópio bruto foi de 3,6 mil toneladas em 2003. A receita interna da indústria farmacêutica afegã é estimada em 2,3 bilhões de dólares, a receita externa – até 30 bilhões de dólares por ano. (OZEROV, 2004)

O especialista em defesa e segurança nacional da Rússia, Oleg Antipov cita que:

A ocupação do Afeganistão pelos EUA e seus aliados da OTAN levou a um aumento astronômico do tráfico de drogas. Segundo a ONU, de 2001 a 2006, ou seja, em cinco anos, esse crescimento foi de 3.200%! Não há erro aqui. É esse número que consta do relatório da ONU.  (SIBIRYAKOV, 2010)

Nunca o Afeganistão deu origem a tanta heroína produzida a partir do ópio como durante a ocupação da OTAN – responsabilizando-se, segundo dados da ONU, por cerca de 90% do mercado mundial. (GOULÃO, 2021)

Em 2006, a área cultivada atingiu 165 mil hectares. Em 2001, na época da invasão, eram 7.706 hectares. Em fevereiro de 2004, a Voice of América, com referência ao Departamento de Estado dos Estados Unidos, citou dados de que “a heroína afegã é vendida no mercado internacional 100 vezes mais cara do que o preço pelo qual os camponeses afegãos a vendem”, ou seja, a renda deste negócio já são de centenas de bilhões de dólares.

É sabido que o narcotráfico ocupa o terceiro lugar em termos de lucros, depois do comércio de petróleo e armas. E todo esse gigantesco recurso de drogas está localizado no território do país, onde existe um grande contingente de tropas dos EUA e da OTAN.

Onde quer que as tropas americanas apareçam, segue o tráfico de drogas. O jornal The London Independent escreve: “Bagdá é uma cidade que até março de 2003 (isto é, antes da agressão) nunca tinha visto heroína, uma droga mortal, agora está inundada de drogas, incluindo heroína … O povo de Bagdá reclama que as drogas são como a heroína e a cocaína, muitas vezes são vendidas nas ruas da capital iraquiana. De acordo com várias fontes, o contrabando de drogas e armas é patrocinado pela CIA para financiar operações secretas realizadas pela inteligência dos EUA em todo o mundo”. (SIBIRYAKOV, 2010)

“Os Estados Unidos nunca deixarão o Afeganistão por conta própria”. Fotos de tropas dos EUA / OTAN patrulhando e protegendo campos de plantação de papoula do ópio no Afeganistão.
https://publicintelligence.net/more-photos-of-usnato-troops-patrolling-opium-poppy-fields-in-afghanistan/

Não podemos esquecer que 1 dólar investido no comércio das drogas pode render até 12.000 Dólares. Nenhum investimento legal fornece uma tal margem de lucro. O custo da heroína afegã aumenta significativamente à medida que avançamos para o norte do país: no Paquistão ascende a cerca de 650 dólares por quilo, 1.200 dólares no Quirguistão, chega a 70 dólares por grama na cidade de Moscou. E 1kg de heroína é equivalente a 200.000 doses, num vício que provoca uma dependência desesperada logo após as primeiras 3 ou 4 doses. (SEDOV, 2012) 

O capital “legítimo” que circula pelo planeta seria temporariamente insustentável sem o mercado negro global das drogas; e ambos os componentes da economia mundial estão concentrados nos Estados Unidos. Washington está consciente de que a produção das drogas só pode ser aplicada depois de cumprir o requisito principal, ou seja, que os lucros finais não criem um efeito cascata sobre o produtor, caso contrário o mercado negro ruiria instantaneamente. A Máfia que opera no comércio das drogas consegue obter 90% de lucros na venda da heroína; aqueles que trabalham a matéria-prima recebem 2%, os produtores de papoula 6%, e os comerciantes de ópio 2%. (SEDOV, 2012)

FONTE: United Nations Office on Drugs and Crime.

Segundo a agência antinarcóticos da Rússia, cerca de 100.000 pessoas em todo o mundo morrem a cada ano por causa das drogas provenientes do Afeganistão, mais do que os mortos provocados pela explosão nuclear que destruiu Hiroshima. Neste contexto, na Rússia o total é de cerca de 30.000 vítimas. A mesma agência afirma que a produtividade dobrou na última década e até agora 90% das doses das drogas consumidas no mundo (um total de 7 bilhões de doses) é representado pela heroína. (SEDOV, 2012)

Em 2003, na fronteira Tadjique-Afegã, os guardas da fronteira russos apreenderam 5,2 toneladas de drogas, incluindo 2,8 toneladas de heroína. (OZEROV, 2004)

O Holocausto Opiáceo Global. Os Estados Unidos restauraram rapidamente a indústria de ópio afegã destruída pelo Talibã de 6% da participação no mercado mundial em 2001 para 90% em 2007, e causou 5,8 milhões de mortes relacionadas aos opiáceos em todo o mundo desde o 11 de setembro. O governo dos Estados Unidos tem se envolvido sucessivamente no flagelo dos opiáceos na Turquia, Sudeste Asiático, Afeganistão e América Latina. O Irã ameaçado e sancionado pelos EUA lidera o mundo na interdição de opiáceos afegãos protegidos pelos EUA que atualmente matam cerca de 0,3 milhão de pessoas anualmente. Por motivos religiosos, o Talibã baniu o álcool, proibiu o fumo para funcionários do governo e proibiu a produção de ópio. A cada ano, o fumo, o álcool e as drogas ilícitas matam cerca de 8 milhões (fumo), 2,8 milhões (álcool) e 0,8 milhões (drogas ilícitas) de pessoas a cada ano, totalizando cerca de 11,8 milhões de pessoas em todo o mundo. (POLYA, 2021)

6) OS EUA COMETERAM DIVERSOS CRIMES DE GUERRA CONTRA O POVO AFEGÃO.

Abaixo citamos um trecho da entrevista da representante da RAWA (Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão), que se identifica como Friba. Ela concedeu esta entrevista (em 17 de maio de 2016) sobre a situação de seu país há 15 anos ocupado pelos Estados Unidos sob promessa de promover liberdade, igualdade e justiça. A voz de Friba, que representa a dos mais de 30 mil afegãos inocentes assassinados e mais de 100 mil feridos por atos de terror e crimes de guerra desde outubro de 2001.

Como está o Afeganistão hoje, 15 anos após a invasão norte-americana?

Friba: Os Estados Unidos cometeram crimes hediondos no Afeganistão na década passada, matando milhares de pessoas inocentes em ataques aéreos e incursões noturnas, e torturando os afegãos inocentes em suas prisões secretas dentro de suas bases militares.

O massacre de Bala Baluk na província de Farah em 2009, que matou 147 afegãos inocentes, o massacre de Panjwai na província de Kandahar em 2012, que matou 16 afegãos inocentes, a matança de doze crianças inocentes na província de Kunar em 2013, e o ataque ao hospital de Médicos sem Fronteiras em 2015, na província de Kunduz, que matou 42 e feriu mais de 30 pessoas, são apenas alguns casos envolvendo derramamento de sangue causados por forças dos Estados Unidos e da OTAN no Afeganistão.

Apesar disso, a maior traição dos Estados Unidos ao Afeganistão é a reedição (apoio sequencial) de criminosos fundamentalistas islamitas no poder. Como a história tem mostrado sempre e o presente prova, nenhuma intervenção ou ocupação estrangeira é inteiramente bem-sucedida sem a cooperação de um grupo de traidores internos, mercenários do país ocupante.

Hoje, o Afeganistão é governado por senhores da guerra fundamentalistas sanguinários e criminosos que compactuam com a ideologia do Taliban, e que cometeram crimes piores do que os do Taliban no passado. A Aliança do Norte (OTAN), composta pelos elementos mais traiçoeiros e misóginos dos senhores da guerra e comandantes militares, foi imposta ao nosso povo através de três eleições historicamente fraudulentas.

Esses criminosos provocaram a guerra civil de 1992 a 1996 que matou mais de 65 mil civis em Cabul, e saquearam a cidade. Suas milícias cometeram assassinatos sistemáticos, estupros, estupros coletivos, extorsões, roubos, detenções arbitrárias, cortaram os seios das mulheres, cravaram pregos em crânios, realizaram rituais horríveis de matança e centenas de outros crimes. Em vez de enfrentar a acusação nos tribunais internacionais por tais crimes, esses assassinos desfrutam da mais absoluta impunidade e engordam suas contas bancárias, com o apoio do Ocidente.

Inúmeros relatórios de organismos internacionais como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional documentaram os crimes cometidos pelos poderosos senhores da guerra em todo o Afeganistão, tanto no passado quanto no presente. Apesar disso, sabemos que este apoio é inabalável e continuará por décadas.

O novo governo do Afeganistão, denominado “Governo de Unidade Nacional”, é dirigido pelos mercenários de longa-data dos Estados Unidos, Ashraf Ghani e Abdullah Abdullah, ambos da Aliança do Norte que estavam unidos em um acordo quebrado por John Kerry, após os dois não terem concordado com os resultados das fraudulentas e repugnantes eleições presidenciais, repleta de sujeira; o resultado daquelas eleições foi oficialmente lançado um ano depois!

O vice de Ashraf Ghani é Rashid Dostum e outro foi Sarwar Danish, famosos criminosos, enquanto os companheiros de chapa de Abdullah foram Mohammad Khan e Mohammad Mohaqiq, outros dois criminosos bem conhecidos. A primeira medida do novo governo foi assinar o Acordo de Segurança Bilateral, que legitima a presença a longo prazo dos Estados Unidos em nossa pátria, e foi o documento que oficialmente vendeu nossa independência aos Estados Unidos.

Não há nenhuma cara nova no governo. A única diferença é que, desta vez, os famosos criminosos das facções Khalq e Parcham (antigos grupos socialistas, hoje infiltrados por criminosos da CIA), que eram marionetes da União Soviética, também têm recebido uma parte do poder apesar de terem sido incriminados em uma Lista da Morte que revelou os nomes de cinco mil ativistas políticos e intelectuais, mortos pelo regime nas décadas de 1970 e de 1980.

É desnecessário dizer que tal regime fantoche não pode trazer paz, liberdade, democracia, justiça e os direitos das mulheres, mesmo que se submeta a eleições cem vezes.

Segundo a ONU, o alcance do Taliban hoje (em 2016) é o mais amplo desde 2001. Os ataques suicidas do Taliban e a guerra constante entre o governo afegão e o Taliban, fizeram um inferno na vida do nosso povo. A taxa de mortalidade civil em 2015 foi a maior já registrada, sendo que grande parte das vítimas era composta de mulheres e crianças.

Enquanto as feridas que o Talibã causou ao nosso povo ainda estão sangrando, as negociações de paz estão em andamento para incluir o Taliban no governo. Em vez de colocá-los em julgamento pelos crimes hediondos, estão sendo convidados para o governo com o objetivo de completar o círculo de fundamentalistas criminosos e mercenários no Afeganistão. Como pode uma força tão criminosa trazer paz ao tomar o poder?

Hoje, a economia do Afeganistão está em frangalhos. Mais de 60 bilhões de dólares foram doados ao Afeganistão para o propalado esforço de reconstrução, mas nem sequer alguns centavos chegaram ao nosso povo enquanto encheram os bolsos da máfia, dentro e fora do governo. Nos últimos treze anos nenhum projeto contribuiu para a reconstrução da base do país. Nenhuma infra-estrutura básica foi construída no país, e o desemprego atinge novos picos a cada dia.

A pobreza e a fome no Afeganistão estão entre as mais altas do mundo, apenas comparável às nações africanas. O Afeganistão tem a maior taxa de mortalidade infantil do mundo, milhões de pessoas sofrem de fome e desnutrição. 25% das crianças no Afeganistão trabalham para alimentar suas famílias, o que as impede de frequentar a escola e de ter acesso a outros direitos básicos.

O Afeganistão foi considerado o país mais corrupto do mundo nos últimos anos. Graças à invasão norte-americana, o Afeganistão é hoje um narco-Estado. Não é apenas o maior produtor de drogas fornecendo 90% do ópio mundial, mas também tem o maior índice [proporcional, grifo nosso] de usuários de drogas, com cerca de três milhões de viciados. Na recente entrevista coletiva de Londres, Ashraf Ghani afirmou que do lucro de 500 bilhões de dólares de drogas no Afeganistão, 480 bilhões fluíram para a Europa.

Isto não apenas revela o fracasso do Ocidente em sua chamada guerra contra as drogas no Afeganistão, como também suscita dúvidas em relação ao seu envolvimento neste negócio. (MONTESANTI, 2017)

A ativista e política afegã Malalai Joya (http://www.malalaijoya.com/dcmj/), sobrevivente de quatro tentativas de assassinato, após ser eleita ao parlamento do Afeganistão em 2005 e expulsa em 2007 pelos senhores da guerra, denuncia em seu livro ”A Woman Among Warlords” (2009), que: os piores massacres desde o 11 de Setembro foram durante o mandato do presidente dos EUA, Barack Obama. A minha província nativa de Farah foi bombardeada pelos EUA em maio último (de 2009). 150 pessoas foram mortas, a maior parte delas mulheres e crianças. Em 9 de Setembro os EUA bombardearam a Província de Kunduz matando 2000 civis. (…) Ao longo dos últimos oito anos os EUA ajudaram a transformar o meu país na capital mundial da droga por meio do seu apoio aos barões da droga. Hoje, 93% de todo o ópio do mundo é produzido no Afeganistão. Muitos membros do Parlamento e altos responsáveis beneficiam-se abertamente do comércio de drogas. O próprio irmão do presidente Hamid Karzai é um bem conhecido traficante de drogas. (JOYA, 2009) O escritor português Miguel Urbano Rodrigues cita que: o presidente Hamid Karzai, que foi funcionário subalterno de uma companhia petrolífera norte-americana, comporta-se como um criado dos EUA. (RODRIGUES, 2002) Esse presidente afegão foi o primeiro fantoche político colocado no poder pelos EUA, após a ocupação e a subsequente guerra do Afeganistão. Se manteve no poder de 22 de dezembro de 2001 até 29 de setembro de 2014.

Segundo informações do professor e jornalista Gideon Polya, da Universidade La Trobe de Melbourne, Austrália: O Holocausto Afegão e o Genocídio Afegão foram associados a 3,6 milhões de mortes de crianças menores de 5 anos, 5,2 milhões de mortes evitáveis ​​por privação, cerca de 1,6 milhões de mortes violentas e 6,8 milhões de mortes por violência e privação pelos EUA, Austrália, no Afeganistão ocupado pela OTAN no período de 2001-2021. A remoção de um governo secular afegão apoiado pelos EUA em 1978 precipitou a invasão russa e a guerra envolvendo islâmicos apoiados pelos EUA (mortes evitáveis ​​por privação 2,9 milhões, 1979-1989) seguidas pela guerra civil vencida pelo Talibã (mortes evitáveis ​​por privação 3,3 milhões, 1989-1999). O Holocausto afegão de 1979-2021, implicado e imposto pelos EUA, foi associado a 13 milhões de mortes prematuras no Afeganistão. (POLYA, 2021)

7) O DECLÍNIO DO IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO, E A SUA DERROTA PARA O TALIBÃ.

A entrada do Talibã em Cabul é uma grande derrota para os Estados Unidos. Poucos meses depois de os EUA iniciarem sua guerra contra o Talibã em 2001, o então presidente George W. Bush anunciou: “o regime do Talibã está chegando ao fim”. Vinte anos depois, o inverso se faz evidente. Mas essa derrota dos EUA – depois de gastar 2,26 trilhões de dólares e causar pelo menos 241 mil mortes – é um consolo frio para o povo do Afeganistão, que agora terá que enfrentar a dura realidade do governo do Talibã. Desde a sua formação no Paquistão em 1994, nada de progressista pode ser encontrado nas palavras e atos do Talibã ao longo de sua história de quase trinta anos. Nem nada de progressista pode ser encontrado na guerra de vinte anos que os EUA levaram a cabo contra o povo afegão. (PRASHAD, 2021)

Custos humanos e orçamentários da Guerra dos EUA no Afeganistão (2001-2021). Estudo realizado por: Neta C. Crawford e Catherine Lutz, que comprova o gasto astronômico de 2.26 trilhões de dólares durante a ocupação dos EUA no Afeganistão, publicado em 15 de abril de 2021. FONTE: Watson Institute International & Public Affairs / Brown University, Boston University. O estudo completo está disponível no endereço eletrônico: <https://watson.brown.edu/costsofwar/files/cow/imce/figures/2021/Human%20and%20Budgetary%20Costs%20of%20Afghan%20War%2C%202001-2021.pdf>. 

Os EUA, como hegemonia global, não podem mais arcar com o custo financeiro de permanecer naquele país (no Afeganistão), então estão se retirando. Os novos custos projetados para manter o império global dos EUA na próxima década aumentaram dramaticamente desde o início da guerra afegã no outono de 2001. As elites dos EUA agora percebem que não podem mais arcar com os novos custos crescentes do Império em outros lugares, ao mesmo tempo em que continuaram jogando dinheiro ao longo de 20 anos no buraco obscuro financeiro chamado Afeganistão. Os EUA estão se retirando porque, pela primeira vez desde 1945, decidiram cortar seus custos em áreas menos estratégicas para poder financiar os custos crescentes do império em outros lugares. (…) não é nenhuma surpresa que Biden, e as elites do império dos EUA em geral, tenham concluído que é melhor cortar as perdas no Afeganistão e sair agora. O mesmo vale para os custos gerais do império em todo o Oriente Médio. Não haverá mais guerras tradicionais utilizadas pelos EUA. (…) O principal motivo estratégico para as guerras dos EUA no Oriente Médio – ou seja, petróleo – não é mais levado em consideração. Em resumo: o custo das guerras no Oriente Médio (Iraque, Afeganistão, Síria, Somália, contenção do Irã, etc.) estão sendo substituídos pela guerra econômico-tecnológica com a China, a guerra de segurança cibernética com a Rússia, mais a necessidade de compromissos adicionais para a ‘guerra com a natureza’ (custos das mudanças climáticas). (RASMUS, 2021)

O império dos EUA simplesmente não pode mais arcar com a conta total de todos os itens acima. E essa é a razão número um pela qual os EUA estão deixando o Afeganistão de uma vez. É por isso que Biden está reduzindo as perdas dos EUA no Afeganistão e saindo. Como ele sinalizou em seu discurso na TV à nação em 16 de agosto, que a guerra não é mais do interesse global dos EUA. Existem tarefas mais importantes. Tarefas que exigirão ainda mais fundos. Os interesses dos EUA mudaram. O mesmo deve acontecer com seus gastos do império. É por isso que finalmente está saindo do Afeganistão. (RASMUS, 2021)

O vídeo abaixo mostra um pouco do desespero de parte do povo afegão no aeroporto de Cabul. Esse povo desesperado e aos prantos que aparece neste vídeo, são em sua grande maioria os colaboracionistas que se venderam, e ajudaram os EUA no processo de ocupação e na guerra contra seu próprio povo durante 20 anos. São os afegãos que traíram seu próprio país, para beneficiar os interesses dos invasores, EUA e forças da OTAN, como Alemanha, Austrália, Inglaterra, entre outros países imperialistas. 

FONTE: Observações do Presidente Biden acerca da retirada das forças dos EUA do Afeganistão, feitas em 06/Julho/2021.  <https://www.resistir.info/afeganistao/biden_jul21.html>. 

7.1) OS EUA ARMARAM O EMIRADO ISLÂMICO DO AFEGANISTÃO DURANTE A SUA SAÍDA

É fato que a derrota dos EUA (com o fim da ocupação) no Afeganistão e a retomada repentina do poder pelo grupo islâmico Talibã, sucinta diversos tipos de dúvidas e questionamentos, sendo um desses:: por que, e quais foram os objetivos reais do governo dos EUA, para ter deixado para trás dezenas de bilhões de dólares em armas, equipamentos, munições, bases militares já construídas e operáveis, veículos de guerra, como blindados, helicópteros e aviões de transporte e combate, além de muito dinheiro vivo? Poderá ter sido isso um acordo oculto feito pelo governo dos EUA com os líderes do Talibã, ou realmente não houve tempo hábil e uma logística, para destruir os armamentos e as bases e fazer a evacuação dos aviões e helicópteros?

Ao derrubar a República Islâmica do Afeganistão, o Emirado Islâmico (Talibã) que o substitui apreendeu várias centenas de milhares de armas, milhares de blindados e Humvees, e até pelo menos 4 helicópteros Black Hawk. Coloca-se a questão sobre o futuro de 200 aviões de combate que não deixaram o solo afegão. (REDE VOLTAIRE, 23/08/2021)

FONTE: ‘’Nós somos bons se você for bom.’’ – 19/01/2021. <http://www.malalaijoya.com/dcmj/images/malalaijoya/us_taliban_19-jan-2021.jpg>. 

O artigo de Adam Andrzejewski denominado “Custos exorbitantes – Equipamento militar dos EUA deixado para trás no Afeganistão” [2], publicado na página da Forbes, um dos principais veículos de comunicação do imperialismo estadunidense, apresenta uma lista aproximada dos materiais que foram deixados no Afeganistão para o domínio e uso do Talibã, e mostra bem a capacidade de fogo herdada pelo grupo islâmico.

Os EUA forneceram um valor estimado de US $ 83 bilhões em treinamento e equipamento militar para as forças de segurança afegãs desde 2001. Somente neste ano, a ajuda militar dos EUA às forças afegãs foi de US $ 3 bilhões. (ANDRZEJEWSKI, 2021)

Os EUA deixaram para trás, mais de 75.898 veículos de combate, entre blindados, caminhões, picapes para deslocamento de tropas, entre outros veículos menores. FONTE: GAO analysis of Department of Defense. < https://thumbor.forbes.com/thumbor/960×0/https%3A%2F%2Fspecials-images.forbesimg.com%2Fimageserve%2F6123a7536d129bcc992e80f8%2FGAO—Vehicles-by-Type-Into-Afghanistan%2F960x0.jpg%3Ffit%3Dscale>. 
Os EUA deixaram no Afeganistão 208 aeronaves, como diversos modelos de aviões de carga, de transporte de tropas, de ataque e reconhecimento, além de helicópteros, como o Black Hawk, entre outros modelos. FONTE: GAO analysis of Department of Defense. <https://thumbor.forbes.com/thumbor/960×0/https%3A%2F%2Fspecials-images.forbesimg.com%2Fimageserve%2F6123a91ad26765c1c0d58199%2FGAO—-Aircraft-for-Afghanistan%2F960x0.jpg%3Ffit%3Dscale>. 
Desde 2003, os EUA deram às forças afegãs pelo menos 600.000 armas de infantaria, incluindo rifles M16, pistolas, fuzis e metralhadoras. 162.000 peças de equipamento de comunicação e 16.000 dispositivos de visão noturna, de acordo com o relatório do GAO. FONTE: GAO analysis of Department of Defense. <https://thumbor.forbes.com/thumbor/960×0/https%3A%2F%2Fspecials-images.forbesimg.com%2Fimageserve%2F6123ab622ef5975872d58199%2FGAO—-Weaponry-Into-Afghanistan%2F960x0.jpg%3Ffit%3Dscale>. 
Outros equipamentos de visão noturna, rádios comunicadores, sistemas de transmissão de rádio, entre outros. FONTE: GAO analysis of Department of Defense. <https://thumbor.forbes.com/thumbor/960×0/https%3A%2F%2Fspecials-images.forbesimg.com%2Fimageserve%2F6123ad8d00c9e76fffe3c8d3%2FGAO—-Night-Vision-and-other-equipment-Afghanistan%2F960x0.jpg%3Ffit%3Dscale>. 

7.2) O QUE ESPERAR DA VOLTA DO TALIBÃ, E QUAIS OS MOVIMENTOS QUE  RÚSSIA E CHINA ESTÃO A FAZER.

Com a saída apressada dos EUA do Afeganistão, outros atores do jogo econômico capitalista global, estão se movimentando para que acordos sejam fechados com o novo governo do Talibã, e o Afeganistão seja integrado na agenda de desenvolvimento de integração regional, que já vem sendo construída pela China e pela Rússia com diversos países asiáticos e do Oriente Médio. O Afeganistão, pela sua localização estratégica (ao lado da Rússia, da China, e do Irã. Três países ‘’inimigos’’ do imperialismo dos EUA) está no caminho para entrar nesse novo acordo de desenvolvimento capitalista euro-asiático.

Em Junho realizou-se uma reunião trilateral entre representantes da China, do Talibã e do Paquistão a propósito da qual o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros saudou “o rápido retorno” do grupo afegão “à vida política no país”, fez votos de “uma recuperação pacífica do Afeganistão” e prometeu “expandir laços econômicos e comerciais”. A China está interessada em estender ao Afeganistão o seu projeto de corredor econômico com o Paquistão integrado na nova rota da seda ou Iniciativa Cintura e Estrada (ICE). O primeiro passo seria a construção de uma auto estrada ligando Cabul a Peshawar através da passagem do Khyber. Esta seria um setor do corredor econômico entre China-Paquistão, que inclui a construção do estratégico aeroporto de Tashkurgan do lado de Xijiang na estrada do Caracórum, a apenas 50 quilômetros do Paquistão e também nas proximidades do Afeganistão e do porto de Gwadar, no Baluchistão. (GOULÃO, 2021)

Pequim entende também que a pacificação do Afeganistão seria muito importante para reduzir as ações desenvolvidas por terroristas do Isis contra a região uigur de Xinjiang. Moscou tem sido palco de reuniões interafegãs e recebeu recentemente a visita de uma delegação Talibã (…) – o que faz admitir uma futura retirada do grupo islâmico da lista de organizações consideradas terroristas pela Rússia. Um Afeganistão pacificado é igualmente um objetivo que se enquadra nos esforços de integração regional desenvolvidos pela Rússia através da Organização de Cooperação de Xangai, e da União Econômica Euroasiática, que incluem projetos sintonizados com ações da China na região. (GOULÃO, 2021)

No vídeo abaixo, podemos ver lideranças do Talibã em visita à China, semanas antes da saída dos EUA do Afeganistão. O conselheiro de Estado chinês e ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, pediu (…) ao Talibã que rompesse totalmente com todas as organizações terroristas, incluindo o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental (ETIM) e lutasse resolutamente contra elas (as organizações terroristas). Wang fez o comentário durante uma reunião com o chefe político do Talibã, Mullah Abdul Ghani Baradar, no município de Tianjin, no norte da China. (Shanghai Eye 魔都眼, 28/07/2021)

O que fica muito claro é: que China e Rússia estão a realizar acordos com o Talibã, e que dentro desses acordos comerciais, pode-se vir uma mudança significativa de postura do Talibã, pois como descrito acima, a China pediu, ou seja, colocou como regra do acordo, que o Talibã rompa suas ligações com outros grupos terroristas da região. Já é um primeiro passo para que possa haver alguma mudança significativa neste horizonte, que saberemos somente com o passar do tempo. 

De toda forma, como o Talibã é uma criação dos EUA (ainda que tenha rompido esta relação), não poderemos esperar grandes mudanças na sua estrutura, e nem no seu jeito ditatorial repressor, pois essa organização foi formada para ser um espelho do seu criador. Então, como bem foi descrito e fundamentado neste estudo, a responsabilidade e a culpa de toda tragédia e de todo morticínio acontecido no Afeganistão, após a derrubada do governo socialista até a atualidade, recai completamente sobre o imperialismo dos EUA e seus aliados da OTAN, o sistema capitalista, e seus governos conservadores genocidas, pois foram eles, que germinaram e amamentaram desde o berço o Talibã entre diversos outros grupos terroristas extremistas, que oprimem, torturam e matam milhares de trabalhadores(as) todos os anos no mundo, em conflitos e guerras capitalistas.

FRENTE ATIVISTAS DE ESQUERDA BRASIL
17 de agosto a 17 de setembro de 2021.

**Todas as traduções de textos da mídia russa entre outras foram feitas por nós.

NOTAS:

[1] FULLER, Graham E. ; STARR, S. Frederick. The Xinjiang Problem. (PDF) Central Asia-Caucasus Institute. Disponível em: <https://www.files.ethz.ch/isn/30301/01_Xinjiang_Problem.pdf>. Acesso em 24 de agosto de 2021.

[2] ANDRZEJEWSKI, Adam. Custos exorbitantes – Equipamento militar dos EUA deixado para trás no Afeganistão. Forbes. 23/08/2021. Disponível em:<https://www.forbes.com/sites/adamandrzejewski/2021/08/23/staggering-costs–us-military-equipment-left-behind-in-afghanistan/?sh=57975e2441db>. Acesso em 25 de agosto de 2021.

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#EUA  #Afeganistão  # URSS  # Talibã  #Al-Qaeda  #Drogas  #GuerraFria #Imperialismo

Uma consideração sobre “EUA E A CRIAÇÃO DO TALIBÃ. UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA RECENTE DO AFEGANISTÃO

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